Tentei enumerar meus pensamentos e senti vontade de poder lembrar
de todos eles, acho que pensei algumas boas coisas pela manhã.
Mas já faz tanto tempo pra lembrar... deixei-os no ar, pro ar. (...)


domingo, 9 de março de 2014

E acabo mostrando a mim mesma o meu maior e mais sutil sintoma: em tudo, tão logo depois do início, já me vem a vontade de interromper. Antes de ir pra segunda linha penso se esse é de fato o início que quero pra minha nova confissão. Não me dou a resposta, e ainda pensando a respeito resolvo continuar a desentulhar essas palavras. Pelo que sei isso que vem sem que coloquemos barreiras é material muito rico a título de análise. Mas é difícil não tomar cuidado com as palavras, difícil não voltar algumas casas e arrumar a concordância de uma ou duas colocações. Antes de escrever minha nova frase desejo desesperadamente ler a anterior, por que as vezes duvido que a nova faça sentido. (Ou seria por que lhe temo?). De fato, sempre faz algum sentido pra mim. Eis que duvido: pra quem escrevo agora? Achei que a interrogação seria a melhor forma de eu mesma me indagar a respeito. Mas, qual "Outro" estaria em jogo nesse meu novo arranjo de palavras que construo agora? Estou tentando escrever meus pensamentos a medida que eles me invadem e construo o texto, mas isso não é uma tarefa muito fácil. Não posso lhe contar todos os meus segredos: eles deixariam de existir. Tento me recordar o que exatamente me trouxe aqui hoje, mas parece que essa coisa já esta querendo ir embora, não quer me dizer seu nome... Como sempre faz. Por isso, desconfio de mim mesma. Sei que com facilidade ando desistindo das coisas. Por muitas vezes me pego desistindo até mesmo de pensar, e quando aquele pensamento vem lhe grito: silencio! eu não te quero agora. Logo novas nuvens de pensar vão vindo... Mas ora, não seria perfeito poder controlar tudo o que se pensa desta forma? Ordenando-os a ir embora? A questão é: eles apenas adormecem. Pairam... suspirando suas queixas, a mercê da parte mais ativa do meu consciente. E mesmo mergulhados em um sono pesado, continuam a fazer barulho, parece que insistem em me ter por perto. A pergunta é: qual será a melhor hora que querê-los por perto? Quando será possível marcarmos uma conversa, frente a frente? Bem...

Um comentário:

"— Por que não ter memórias? Os buracos negros, eu quis dizer. Mas fiquei quieto, desejando apenas ter um disco qualquer de cítara tocando para que nesse momento pudéssemos interromper a conversa para prestar atenção num acorde qualquer entre duas cordas, mais um silêncio que um som. Sempre podíamos ouvir a chuva, seu bater compassado na vidraça. Ou acompanhar com os olhos as gotas escorrendo atrás do roxo e do amarelo. De pontos diferentes, às vezes duas gotas deslizavam juntas para encontrarem-se em outro ponto, formando uma terceira gota maior. Mas talvez ele achasse tedioso esse tipo de diversão. —Ter memórias — repeti." Caio F.