Tentei enumerar meus pensamentos e senti vontade de poder lembrar
de todos eles, acho que pensei algumas boas coisas pela manhã.
Mas já faz tanto tempo pra lembrar... deixei-os no ar, pro ar. (...)


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Hoje resolvi conversar, e falei baixo comigo. Baixinho. Assim só eu me escuto. Outrora, se grito, logo me silêncio. Me contei segredos, me surpreendi com eles. Tentei me olhar e desviei-me o olhar, me perdendo atrás dos cabelos. Não posso evitar, gosto de pés descalços, de roupa fresca, pôr do sol, do cheiro do entardecer tão como sua meia luz. Resolvi sentar no beira da porta. O vento que vinha talvez me ajudasse nessa brincadeira que é pensar. Por que pensar dói. Segundo Caio Fernando Abreu, quem escreve sangra , e sangra "a-bun-dan-te-men-te", precisa "tirar sangue das unhas". Pensar dói.  Mas com o tempo se vai apreciando esse tipo de coisa. Viver sempre em dois mundos. Ou mais. Estive em tantos mundos essa semana que já nem sei... Lembro-me vagamente sobre o calor de talvez, Mercúrio, sobre sentir os poros da minha pele como se sente água em um banho gelado. Sobre a frente fria que pousou sobre um par de cílios e fez com que o momento de fechar dos olhos fosse possível vagarosamente ser congelado. Pode ser difícil entender e não é exatamente essa minha intenção, depois que descobri que olhar as borboletas pode ser tão bom quanto senti-las no estômago.
"— Por que não ter memórias? Os buracos negros, eu quis dizer. Mas fiquei quieto, desejando apenas ter um disco qualquer de cítara tocando para que nesse momento pudéssemos interromper a conversa para prestar atenção num acorde qualquer entre duas cordas, mais um silêncio que um som. Sempre podíamos ouvir a chuva, seu bater compassado na vidraça. Ou acompanhar com os olhos as gotas escorrendo atrás do roxo e do amarelo. De pontos diferentes, às vezes duas gotas deslizavam juntas para encontrarem-se em outro ponto, formando uma terceira gota maior. Mas talvez ele achasse tedioso esse tipo de diversão. —Ter memórias — repeti." Caio F.