Me veio numa noite de quinta. Em outubro. Não havia ainda quem dissesse, confiante, que outubro invadiria novembro, dezembro. Que inundaria sem modéstia janeiro, fevereiro, março. Que traria consigo o que hoje, me arranca alguns sorrisos ao longo do dia, e se outrora me desnorteia, logo me da um norte e um bom motivo pra insistir pra toda essa história sem cabimento mas com-todo-cabimento-do-mundo. Pra todo esse começo de vida, que me trouxe e traz vida, em seu espectro inteiro de cores. Pra gente poder brincar de colorir as coisas. Colorir os dias, as tardes, noites, madrugadas. Por que eu amo a madrugada com você. Ah quem fale do perigo desse verbo e relate consequências tenebrosas por empregá-lo em hora errada, então deixemos pra conjugá-lo outra hora. Ainda tem tempo, muito tempo. Porém, existem coisas que não conseguem esperar, que assumem controle próprio. Que invadem os meses sem aviso prévio, que descartam conceitos de razão, certo ou errado. Hoje, em comum com os marços de antes, só a chuva (como diria Caio). Vai-se vivendo assim, na beira do limite desse mundo, e de outro. Sempre fui apaixonada por driblar limites, não tenho medo deles. Hoje eu sou apaixonada por você. E escolhi não ter medo disso também, embora isso seja mais uma fuga do que uma escolha. Hoje eu sou apaixonada por você e por todas as suas loucuras que volta e meia se encontram com as minhas. Que fazem com que a gente cometa uma maior ainda e não entenda muita, muita coisa. Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Né? Nada mais digno que se render à loucura quando ela vem do coração. Queria você aqui comigo agora.
de todos eles, acho que pensei algumas boas coisas pela manhã.
Mas já faz tanto tempo pra lembrar... deixei-os no ar, pro ar. (...)
segunda-feira, 14 de março de 2011
"— Por que não ter memórias? Os buracos negros, eu quis dizer. Mas fiquei quieto, desejando apenas ter um disco qualquer de cítara tocando para que nesse momento pudéssemos interromper a conversa para prestar atenção num acorde qualquer entre duas cordas, mais um silêncio que um som. Sempre podíamos ouvir a chuva, seu bater compassado na vidraça. Ou acompanhar com os olhos as gotas escorrendo atrás do roxo e do amarelo. De pontos diferentes, às vezes duas gotas deslizavam juntas para encontrarem-se em outro ponto, formando uma terceira gota maior. Mas talvez ele achasse tedioso esse tipo de diversão. —Ter memórias — repeti." Caio F.